sábado, 10 de maio de 2008

Cicatrizes do Aborígine



Interessante ver como conceitos que vou aprendendo ao longo das vivências em Fóruns, Congressos e Workshops vão encaixando na minha filosofia de vida.

Assumir riscos e responsabilidade pelas conseqüências é o que faz a diferença no que levamos a diante como crescimento.

Percebo que se continuo correndo os mesmos riscos é porque ainda não aprendi tudo que preciso aprender com essas experiências. Nem chega a ser masoquismo porque a dor é um excelente instrumento de aprendizado.

Já li por aí que a dor é inevitável mas que temos controle sobre a intensidade e extensão do sofrimento.

Penso que nem toda dor é sofrimento, principalmente aquela que nos traz auto-conhecimento, exâme de consciência, crescimento espiritual e libertação de vícios.

A dor pode catalisar o processo de aprendizado nos levando a novos patamares e, assim como a solidão, tem seu papel em nossa existência.

Não sou viciado em solidão ou escravo da dor. Não dependo de solidão e tampouco do sofrimento para crescer, apenas procuro ver utilidade neles.

O velho Mené já dizia; “tire do sofrimento o máximo de ensinamento suportável” , mas tem gente que procura ter aprendizado buscando o máximo de sofrimento suportável. Isso sim é masoquismo.

Prefiro até mudar essa máxima menescaliana e dizer que devemos tirar da dor o máximo de ensinamento suportável e perdoar a nós mesmo ou a outros que nos causaram dor para nos vermos livres do sofrimento que a mágoa e ressentimento trazem.

Em Natureza Selvagem, a personagem chega ao isolamento total e a beira da morte pra concluir que a felicidade só é verdadeira quando ela é dividida com outras pessoas, que o verdadeiro sentimento de amor só vem quando aprendemos a perdoar e que felicidade não está necessariamente associada a um relacionamento amoroso/sexual.

Então, ser feliz de verdade é compartilhar, perdoar e aprender. A dor ao longo desse caminho pode ajudar muito se soubermos evitar o sofrimento.

Quando analiso bem de pertinho vejo que grande parte de meu sofrimento quase sempre esteve ligado à falta de perdão a quem me causou dor (inclusive o aborígine que aqui escreve). A dor provoca reações ligadas ao ódio, ressentimento, mágoa e vingança, sentimentos que causam o verdadeiro sofrimento e que só curam com o perdão.

O aborígine então procura não mais sofrer com a dor, aproveita a oportunidade para aprender com ela, perdoa quem lhe infligiu dor, compartilha sua felicidade e vive feliz de verdade! Sozinho ou bem acompanhado!

O instinto aborígine impulsiona e me leva a continuar correndo riscos, vivendo mais, sentindo as dorzinhas catalisadoras, procurando sempre perdoar, aprendendo sempre...inclusive a dividir.

E as cicatrizes estão aí para eternizar as experiências e me lembrar por onde andei, o espelho do meu céu.

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu." - Fernando Pessoa


Leve na mala cicatrizes do aprendizado!